terça-feira, 25 de setembro de 2012

(A)Partes


Há momentos na nossa vida em que só desejamos que os ponteiros do relógio congelem, que as nuvens paralisem, que a rotação da terra pare. 
Que o bater do coração ecoe para lá do peito, que a carícia no rosto seja mais profunda, que os lábios não  se separem. Desejamos que a conversa se prolongue e que o sol não comece a nascer. Desejamos que as piadas não acabem, que as gargalhadas cheguem ao outro lado do oceano. Desejamos que a partida não se aproxime, que o abraço seja eterno, que os braços cresçam e conseguiam envolver todo o mundo. Desejamos que o olhar fale e que a boca veja. Que o cheiro sinta e que os sentidos ganhem magia. Desejamos que as palavras não saiam em som mas em memórias, que a terra abra sobre os pés e que voemos para lá do imaginário, bem alto. Que o infinito seja o limite daquilo que queremos e sentimos, desejamos saber as respostas todas do universo e as perguntas do ser. 
Ser, sentir, falar, amar, gostar, pensar, sorrir, abraçar, partilhar.



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Caio de Fernando Abreu

"Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso. Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flôr, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura. Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna." 



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Easy come, Easy go

Acabei por chegar antes da hora combinada. 
Estacionei o carro no sítio do costume, pode ser o sítio mais banal mas acaba por passar despercebido. Sinceramente é esse o objectivo. Acendi um cigarro, respondi a mensagens pendentes e quando olho de relance para o retrovisor, numa de ver se estava tudo nos conformes, vejo-te a chegar.
Gosto da tua companhia, sempre gostei, mesmo quando dizia que não. Há coisas que não se explicam, e assim é tudo mais fácil. As coisas continuam iguais e tu sabes ouvir, mesmo quando não falo. São amizades.
O caminho torna-se natural, já sabemos onde vamos, aquele lugar onde as luzes esmorecem e a lua brilha mais. 
Não queremos chamar a atenção, mas talvez aconteça mesmo sem repararmos.
Há coisas que não mudam. Um beijo puxa por mais, cada toque induz mais sedução, o calor aumenta e a música, apesar de continuar ligada, deixa de se ouvir. As tuas mãos ainda se lembram das minhas formas e o melhor de tudo isto é que é natural, não pensamos no que fazemos, fluí. 
Pensamos em nós primeiro, e o certo é que resulta. É algo que falta na relação entre as pessoas, naturalidade e calma. 
Há tempo e vontade.
No fim, a amizade mantem-se a mesma, as conversas continuam a acontecer normalmente.  Música, cinema, histórias antigas daquelas que fazem rir até doer a barriga. 
Mais um cigarro, cravo-te o isqueiro porque na minha nunca se encontra nada. Depois?Aproveitamos o resto do momento, falamos mais um bocado, rimos que nem perdemos e pelo meio ainda trocamos carinhos.
"Nada é garantido e assim tem mais piada".

Encontre as diferenças.

Desde há uns meses para cá equacionei a diferença entre o respeito e a consideração.
Há quem diga que são a mesma coisa, que não há respeito sem consideração, que não há consideração sem respeito. Dizem que as duas se completam. 
Eu não acho, talvez por sentir isso.
Por perder toda a consideração que se deposita em alguém mas não é necessário deixar de ter respeito por ela, talvez é uma questão de educação. Posso não confiar, não sentir empatia, não concordar com acções, não concordar com atitudes, sentir a desaprovação vir ao de cima, arregalar os olhos (mesmo que só na minha mente) e pensar whatthefuckisthis, mas isso não me faz perder o respeito. 
Hoje em dia deveria ser um conceito que mesmo que não seja como eu o defini pelo menos que fosse pela mesma ordem de ideias, porque não há quem aguente com cérebro com tanta imaturidade.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Até que ponto a amizade leva ao amor?

É, e sempre foi, fácil confundir as duas coisas, mas até onde é que é só confusão?
Nem sempre é uma questão de ideias baralhadas, de um coração magoado ou de uma química e empatia para lá do surreal.
Falando em amizades entre o sexo aposto, acontece. 
Um rapaz e uma rapariga têm uma amizade normal, falam de séries, música e filmes.  Falam de estudos e trabalho. Ás vezes fofocam, dizem mal de uma assanhada qualquer e, atenção, nesses momentos ai de quem morda a língua que cai redondo de tanto veneno. Há gargalhadas, há abraços, há beijinhos. Também há cotoveladas, pontapés debaixo da mesa, um calduço e até um empurrão. Trocam histórias de álcool, sexo e as vezes de rock'n'roll. Aquele que levamos a uma loja para saber se o vestido é de arregalar os olhos ou se simplesmente de deixar pendurado no provador. Ou se o casaco que está na moda é de levar ou de dar ares de ter sido roubado do roupeiro do avô. Há ainda aquele momento em que te sentas ao pé do mar, ou do rio mas tanto faz, e falas. E depois falas mais um bocadinho, sempre com a certeza de que estas a ser ouvido. Até há quem fale dos seus problemas, e o outro responda com os seus, num género rasca de Yang e Grey. 
Amizade engloba muita coisa. Engloba sentimentos e entrega total de nós próprios, mesmo que não nos estejamos a aperceber.
Depois pode-se chegar a outra barreira, há qualquer coisa mais. É estranho quando é o primeiro que te vem a cabeça só porque aconteceu uma ninharia - que para ele pode ser mais que isso. É estranho quando é o primeiro que te vem a cabeça quando ouves uma música - que sabemos que ele vai gostar. É estranho quando é o primeiro que te vem a cabeça porque ouviste uma piada - ninguém se riu, mas sabes que ele vai gostar.
Pode vir o pensamento de que "Quando há química, a física é sensacional", in a dirty way.

A amizade não é também um tipo amor? Um tipo de química? Um tipo de física?